No nosso primeiro dia em Sydney, tínhamos programado assistir o musical West Side Story, que estava em cartaz no Handa Opera, um espaço com uma estrutura para espetáculos que fica no Jardim Botânico da cidade. Por ali já passaram importantes óperas e musicais, como Carmen, La Traviata, La Bohéme e O Fantasma da Ópera. É um espaço completamente aberto com uma vista privilegiada do porto de Sydney com a Opera ao fundo.

Sabendo que gosto de musicais, o Marcus pretendia fazer uma surpresa e comprar os nossos ingressos, mas por causa do preço, que não era baixo, acabou me contando para podermos nos programar. O que ele não sabia é que desde que em uma aula de teatro musical eu aprendi a coreografia de America (pois é, eu tentei, sem sucesso, até teatro musical), eu queria muito assistir essa peça, e então nos organizamos para ir.

Nossa manhã foi ótima, passamos mais tempo do que poderíamos imaginar no Museu Marítimo e almoçamos por ali mesmo. Mas assim que acabamos de comer o tempo fechou e começaram as primeiras gotas de chuva, que logo viraram um belo de um temporal. Segundo a previsão, aquele seria o único dia de chuva da nossa viagem, mas não queríamos voltar pro hotel. Não teve jeito, compramos uma capa de chuva cara e vagabunda no museu e decidimos encarar a água.

Seguimos então para a Opera de Sydney. Eu estava muito ansiosa para conhecê-la e, até aquele momento, ainda tinha expectativa de fazer a visita guiada naquele dia. Andando, atravessamos os 369 metros da Pyrmont Bridge, que atravessa a Cockle Bay em Darling Harbour, com o vento cada vez mais intenso. A chuva apertou e pegamos o lightrail até o Circular Quay, que dá acesso à Opera, mas àquela altura já estávamos meio molhados e morrendo de frio. Por ali compramos dois guarda-chuvas, já que a capa não estava sendo suficiente, e, meio a contragosto da minha parte, trocamos a visita guiada na Opera, já que ainda não tínhamos comprado os ingressos, por um café quentinho até a hora do musical.

Já naquele momento eu estava super dividida pois, ao mesmo tempo que queria muito assistir a peça, eu sabia que, se eu já estava com frio dentro do café, assistir um espetáculo ao ar livre definitivamente não melhoraria minha situação. Mas o ingresso foi caro, então não ir não era uma opção.Na confirmação da compra estava escrito que a apresentação poderia ser cancelada até meia hora antes do início por mal tempo, mas até aquele momento, nada.

Acontece, que era pro voucher do ingresso ter chegado por e-mail, até dois dias antes, e nós ainda não tínhamos recebido nada, então achamos prudente chegar mais cedo para verificar o que estava acontecendo. Depois de um café quentinho, resolvemos encarar novamente a chuva, que não parava. Seguimos andando, o vento estava gelado, e nossos casacos, capa e guarda-chuva não estavam sendo suficientes para ficarmos confortáveis. Estava anoitecendo e não tinha quase ninguém ali no Jardim Botânico, além da peculiar fauna australiana (só não tinha morcego gigante, que era o que eu mais queria ver!).

Chegando no balcão para retirada de ingressos, fomos informados que não encontraram nada no nosso nome. Era só o que faltava… Então entregamos o celular com a confirmação da compra e, para a nossa surpresa (mas não daqueles que convivem minimamente comigo e com o Marcus), havíamos comprado para a data errada, na terça da semana seguinte. O responsável, vendo nossa cara incrédula, ainda disse que seria melhor assim, pois não tinha mais previsão de chuva para os próximos dias. Dissemos que só ficaríamos em Sydney até segunda e, sem pedirmos, o atendente gentilmente mudou nosso ingresso para aquela noite. Claro, ficamos felizes de não perder o ingresso, mas ao mesmo tempo o que queríamos era que mudasse a data para qualquer outro dia que não fosse aquele. Mas achamos melhor não abusar da boa vontade.

Mas ainda faltavam umas duas horas para a peça começar. O vento estava intenso e não tinha muito abrigo da chuva, que continuava. Compramos umas comidinhas para matar a fome e passar o tempo e aproveitamos a vista, que era realmente bonita, para umas fotos. Em determinado momento, alguns atores subiram ao palco para passar dois movimentos das coreografias, provavelmente para avaliar como estava o palco, e naquela hora tivemos certeza de que o espetáculo não seria cancelado.

Eu estava num conflito interno gigantesco, eu sabia que eu queria assistir a peça e que tínhamos pagado (muito) caro pelo ingresso, mas no fundo (e nem tão fundo assim), o que eu queria mesmo era ir pro hotel ficar quentinha. Resistimos. Nem preciso falar que sentar nas cadeiras molhadas foi terrível. Mesmo com a capa de chuva, foi inevitável nos molharmos. Me acomodei e não ousei mexer um músculo do corpo, pois isso significava sentir mais frio. Nossos lugares eram na lateral e eu confesso que não estava enxergando tão bem assim. O espetáculo começou e, por ironia do destino, ao longo do primeiro ato, a chuva foi diminuindo até quase parar, mas o estrago já estava feito. A verdade é que ainda ventava muito, estávamos molhados e eu não estava conseguindo me concentrar no espetáculo nem curtir aquele momento.

No final do primeiro ato, ficamos ali um tempo esperando o intervalo, mas ainda teria mais de 1h de peça. Eu estava doida para ir embora, mas sem coragem pra propor isso, até que o Marcus olhou pra mim e, vendo o tanto que eu estava tremendo de frio e disse firme: “Vamos pro hotel!”. Eu sabia que ele estava ali mais por mim e que por ele não teria problema irmos embora, mas, mais uma vez, tinha um pedaço de mim que só pensava no preço dos ingressos e ainda hesitei. Ele insistiu, e no fim das contas nem precisou de muito esforço para eu aceitar que era o que tinha que ser feito.

Finalmente pegamos um Uber para o hotel e chegando lá tomei o melhor banho da minha vida!