Como contei no último post, na famosa viagem surpresa que ganhei do Marcus de aniversáio, já no aeroporto, ele me perguntou em determinado momento se já havia me dado qualquer presente que não tivesse um significado. A resposta foi não! Quando falou isso, pensei logo que se referisse ao destino em si, que eu ainda não sabia qual era. Pensei que talvez fôssemos pra alguma Disney que eu ainda não conhecia ou algo assim. Mas uma coisa que eu não sonhava é que a grande surpresa seria viajar num Boeing 747, meu avião preferido! Isso soou estranho pra algumas pessoas e a grande questão foi: “como assim você tem um avião preferido??”

A história é essa: meu avô chegou a ser piloto de avião, meu irmão também trabalha em companhia aérea, meus pais também amam viajar e minha mãe se diverte horrores vendo os aviões subindo e descendo, já que mora relativamente perto de aeroporto e a casa é rota de avião. Quando eu era bem novinha e me perguntavam o que eu queria ser quando eu crescer, por muito tempo a resposta foi: “pilóta de avião!”, assim mesmo, com acento no ”o”! Já quis ser comissária, mas isso nunca foi uma possibilidade real porque não tenho altura suficiente e hoje sei que jamais me daria bem na profissão. Enfim, sempre me interessei por aviação, mas foi convivendo com o Marcus que comecei a conhecer os aviões.

Fato é que em 2019, quando fui pra Buenos Aires pela segunda vez, estava no aeroporto esperando meu voo quando do nada apareceu um avião enorme, pertinho de onde eu tava e eu fiquei muito impactada de ver aquele avião tão grande tão de perto: era o Boeing 747. Ele tem dois andares e a cabine dos comandantes fica no segundo andar, o que deixa ele com um nariz enorme! Desde então, fiquei obcecada com O Narigudo.

Em determinado momento da pandemia, o Marcus comprou um modelo de 747 para montarmos juntos (que nunca terminamos, é verdade, mas agora é o momento!) e eu sempre falei que queria voar nele. Além disso, ainda durante a pandemia, por um tempo, descia um 747 cargueiro da Cargolux toda semana para o aeroporto de Curitiba e eu, que morava no 31º andar de um prédio que era rota de aviões, adorava ir pra varanda ou para o terraço do prédio para vê-lo passar.

Enfim, o Boeing 747 foi o primeiro jato de corredor duplo do mundo, mas, tendo sido projetado no final da década de 60, sua tecnologia já é considerada obsoleta. Dito isso, a grande questão é que atualmente somente sete companhias aéreas usam o 747 para o transporte de passageiros, sendo a maioria na Ásia, e somente a Lufthansa opera com passageiros para o Brasil.

Com o Marcus trabalhando em uma outra Companhia Aérea que também voa pra Frankfurt, achei que precisaríamos pagar o preço cheio pra voar pela Lufthansa, então imaginei que nunca faríamos esse capricho, só pra voar de narigudo. Fato é que até o Marcus colocar aqueles cartões de embarque na mesa, voar no 747 era um sonho distante.

Mas chega de falar de mim, vamos falar do avião: embora o Boeing B747-8 seja enorme, na configuração da Lufthansa comporta “somente” 364 passageiros. Isso porque o avião possui 8 assentos de primeira classe (que ficam no nariz do avião no andar inferior), 80 assentos de executiva (sendo que 32 deles ocupam inteiramente o andar superior, e o restante fica no inferior), 32 assentos de premium economy e 244 economy. A título de comparação, voltamos em um Boeing 777-300ER da Latam que comporta 410 passageiros (38 na executiva, 50 na premium economy e 322 na economy).

Fomos na classe econômica, onde cada passageiro recebe um travesseiro e uma manta para usar ao longo do voo e um fone de ouvido. A configuração dos assentos na classe econômica é 3-4-3 e nos sentamos nas poltronas 34D e 34E, na parte do meio da primeira fileira da última sessão do avião, logo atrás da cozinha.

Por ser a primeira fileira, tínhamos um bom espaço para as pernas, o que, para o meu 1 metro e meio de altura não costuma ser um problema, mas dá a vantagem de poder levantar sem acordar o coleguinha do lado. Eu que estava na poltrona E, a do meio, aproveitei e levantei umas três vezes ao longo do voo para ir ao banheiro, no fundo do avião. Nessas idas ao fundão, reparei que o espaço entre uma poltrona e outra nas demais fileiras parecia bem apertado, tanto que na hora do serviço de bordo os comissários solicitavam aos passageiros para colocarem a poltrona na vertical, caso contrário, mal dava para abrir a mesinha.

Uma coisa interessante é que nas fileiras 22 (poltronas D e G) e 34 (poltronas A, D, G e K) há lugares para encaixar um berço que a própria companhia fornece. Ao nosso lado tinha um casal com um bebê que passou boa parte do voo dormindo no berço e ele ainda ganhou um aviãozinho de pelúcia da Lufthansa que eu quis MUITO. Além disso, antes da decolagem, um membro brasileiro da tripulação passou para o casal as instruções de emergência específicas para eles, uma vez que os detalhes sobre como agir com o bebê não estão no vídeo de segurança da companhia.

Quanto ao entretenimento à bordo, por estarmos na primeira fileira, o monitor ficava abaixo da poltrona. Não sei se isso tinha alguma coisa a ver, mas achei o touch screen da tela terrível. Tive muita dificuldade para ver o que tinha disponível e, já que minha intenção era dormir, acabei desistindo antes que conseguisse ver tudo. De qualquer maneira, vi que tinha um catálogo de filmes enorme, com opções bem interessantes em várias línguas, mas não assisti nenhum. No tempo que deixei a tela levantada deixava sempre no mapa de voo, que eu amo acompanhar.

O serviço de bordo começou logo que o avião atingiu altitude de cruzeiro, o que demorou pouco mais de 1 hora. Primeiro distribuiram um biscoitinho e só depois o jantar.

As opções eram as clássicas: macarrão ou carne. Pedi o macarrão e me arrependi um pouco, mas estava ok. Além do macarrão, tinha uma salada de grão de bico, um polenguinho, biscoito cream cracker, pão, manteiga e um pudim de sobremesa, que foi minha parte preferida! Em seguida, distribuiram Kit Kat. Chegando em Frankfurt, foi servido o café da manhã: omelete com mandioca, frutas, pão e manteiga. Uma coisa que achei boa no serviço de bordo é que os comissários recolhiam as bandejas à medida que cada um acabava de comer, sem passar com o carrinho recolhendo tudo de uma vez, fileira por fileira. Então após a refeição o passageiro pode dormir ou aproveitar o entretenimento a bordo logo que termina a refeição, sem ficar um tempão com a bandeja atrapalhando. Outro ponto a favor: talheres de metal! Apesar de estarmos perto da cozinha e consequentemente do barulho da preparação e recolhimento das refeições, não achei que isso tenha atrapalhado em nada na minha experiência de voo.

No mais, não posso deixar de observar que achei o voo super tranquilo. Senti que a subida e a descida foram super suaves e praticamente não senti o avião balançar.

Em determinado momento, o Marcus chamou o comissário brasileiro que estava nos atendendo para perguntar se poderíamos visitar a cabine do comandante! Aquilo fecharia a minha experiência com chave de ouro! O comissário foi super solícito e nos instruiu a solicitar ao comandante ao final do voo, quando todos os passageiros já tivessem desembarcado. Assim fizemos: esperamos todo mundo sair e pedimos. Não foi difícil conseguir a autorização e eu mal conseguia me conter de animação! Eu queria ter tirado foto de tudo, mas além do nervosismo, sabíamos que a tripulação estava cansada e não quisemos ser inconvenientes, então fomos rápidos na visita. O comandante nos mostrou alguns comandos do avião, nos explicou algumas coisas, mas confesso que eu mal conseguia prestar atenção. Eu poderia ter aproveitado a chance pra fazer perguntas, comentários, pra ver tudo, mas fiquei completamente paralisada com cara de boba! De qualquer maneira valeu MUITO a pena e foi um presentão de aniversário!!

Mas chegou a hora de descer. Já no saguão do aeroporto ainda tínhamos uma vista privilegiada do narigudo e adorei ver um monte deles no habitat natural!

https://www.lufthansa.com/de/en/74h